terça-feira, 25 de setembro de 2012

Entrevista: Atriz já consagrada, Cláudia Abreu diz que seu maior papel é ser mãe


Com mais de 20 anos de carreira, ela mostra que é 'gente como a gente'



Atriz do primeiro time de estrelas da Rede Globo, mãe presente e "gente como a gente". Depois de uma hora de conversa com Cláudia Abreu, em uma livraria no Leblon, no Rio de Janeiro, é impossível não ter a sensação de que a atriz é uma amiga de longa data.



Laura era tão má em Celebridade que era chamada de "cachorra", bem diferente da doce Cláudia Abreu

Com mais de 20 anos de carreira - ela entrou para a tradicional escola de teatro Tablado aos 10 anos - e personagens fortes como a mãe de aluguel Clara (Barriga de Aluguel ), a revolucionária Heloisa (Anos Rebeldes ) e a vilã "cachorra" Laura (Celebridade ), Cacau - como é chamada pelos amigos - fala no papo a seguir sobre o orgulho do diploma, recém-conquistado, em filosofia; a paixão pelo teatro; a descoberta de que o melhor papel de sua vida é ser mãe e a falta de sorte que tem com equipamentos tecnológicos - seu laptop caiu no chão e ela perdeu todos os trabalhos da faculdade, fotos pessoais e um projeto novo que estava escrevendo.

Cláudia Abreu - Comecei muito cedo mesmo e meio que por acaso. Eu fui para o Tablado muito garota, aos 10 anos, como uma atividade extracurricular. Meu tio era amigo de umas pessoas de lá e queria que a minha irmã fosse para ficar mais extrovertida. Acabou que ela não se interessou e eu fui, mas sinto que, se tivessem me chamado para fazer um curso de mergulho, por exemplo, eu também teria ido.Qual é a sensação de ter mais de 20 anos de carreira ainda tão jovem?

Foi mesmo por empolgação e curiosidade, mas uma coisa importante foi o retorno. Eu parei o balé clássico porque sabia que não levava jeito e você só leva jeito quando tem algum retorno positivo das pessoas. Tudo é o destino. Me sentir estimulada, foi o principal ponto para eu ter continuado nessa carreira de atriz. A chave foi o estímulo inicial e as coisas fluíram.



















Nas gravações de Belíssima na romântica Grécia

E como foi esse pulo de atividade extracurricular para profissão?
Cláudia Abreu - Sempre rolava convites desde cedo para fazer comerciais. O meu primeiro comercial foi da caneta Replay, uma caneta que apagava, e foi dirigido pelo Paulo José. Esses encontros da vida são engraçados. Quando eu tinha 14 anos, entrei para um grupo de teatro de peças infantis e quando vi estava com 15 anos fazendo teatro profissional, viajando, fazendo festivais em Teresópolis, temporadas em Niterói... Saía da praia mais cedo para distribuir filipeta da peça antes do espetáculo. Então, isso tudo já dava uma cara de profissão. Fiz com a minha turma do Tablado a peça "O Despertar da Primavera", uma espécie de formatura nossa, e eu fazia o papel principal. Aquilo me instigou de uma maneira muito forte e por causa dessa peça eu fui chamada para fazer um teste na Globo.

Você se lembra de detalhes do teste?
Cláudia Abreu - Lembro-me de que eu quase não fui ao teste porque foi no dia da estreia da peça e eu estava nervosíssima. Como eu nunca tinha feito televisão e, às vezes, a oportunidade aparece uma vez só na vida e um "não" fecha portas, eu fui. Estava nervosa, com a peça e não com o teste, fiz o teste e passei. Era para um programa chamado Teletema. Só que o programa ainda não tinha nem estreado, quando o Wolf Maia viu minhas cenas antes de ir ao ar e me chamou para fazer a novela das sete, Hipertensão  (1986).
Foi tudo bem meteórico então, né?
Cláudia Abreu -  Eu tomei um susto. Foi tudo muito louco, porque nessa novela minha personagem era a Luzia, que morria lá pelo capítulo 100, e tinha um mistério do tipo "quem matou Luzia?". Nesse meio tempo, Marcos Paulo, que dirigia a novela do Aguinaldo Silva das oito, O Outro , me chamou. Eu acabei fazendo duas novelas ao mesmo tempo porque quandoO Outro  estreou, eu ainda fazia cenas do flashback do assassinato da novela das sete.
As coisas aconteceram de uma maneira tão louca que não tinha mais como voltar (Risos).
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Como mãe em Barriga de Aluguel

Que início intenso!
Cláudia Abreu - Depois dessa estreia, parei uns dois meses e já fui fazer a novela Fera Radical , depois veio Que Rei Sou Eu ?  e voltei um tempo para o teatro. Foi quando o Daniel Filho me chamou para fazer Barriga de Aluguel , que foi uma novela com 243 capítulos [ela acertou o número de memória], quase duas em uma, muito intensa e dramática.
Fiz o papel de uma mãe de aluguel, aos 20 anos de idade, e acabei ensaindo esse sentimento maternal que descobri  de verdade quando minhas filhas nasceram. Depois da novela, fui viver o próprio Hamlet no teatro com "Um Certo Hamlet", do Antonio Abujamra, e foi uma experiência muito forte, muito importante na minha vida. Depois da peça, veio a Heloisa da minissérie Anos Rebeldes .
Você passou boa parte da adolescência trabalhando. Conseguiu ter tempo para as coisas típicas de adolescentes?
Cláudia Abreu - Foi um período da minha vida em que eu praticamente só trabalhei mesmo. Enquanto minhas amigas e primas estavam namorando e saindo, eu era só trabalho até os 22 anos. Aí eu parei, dei um tempo para mim, viajei pela Europa. Mas os amigos que ficaram daquela época são os amigos do Tablado, esses amigos são fiéis até hoje. Fomos ver juntos a peça "O Despertar da Primavera", que está em cartaz agora. A gente tem uma coisa muito forte de turma. Mas não tive como manter muito as amizades da escola.









Com Pedro Cardoso em Anos Rebeldes

Como você era na escola?
Cláudia Abreu - (Risos) Era bagunceira, mas sempre fui muito estudiosa, tinha orgulho de tirar boas notas e nunca repeti de ano. Achava que era um atraso ficar para trás.
Como era estudiosa, senti que no final da escola não fiz jus ao currículo escolar que eu tinha tido até então.
Foi por isso que você resolveu fazer a faculdade?
Cláudia Abreu - Acho que sim. Eu já fazia um grupo de estudos de filosofia desde 1994, porque o ator trabalha com o instrumento pessoal, você é o seu próprio instrumento. Desde essa época, senti a necessidade de ter um repertório maior, porque senão você vai se esvaziando e quando vê não tem mais o que dizer, nem através de seu trabalho, nem mesmo numa entrevista ou na sua vida pessoal. Foi um investimento pessoal e, consequentemente, profissional.
E por que filosofia?
Cláudia Abreu - Pensei em fazer história, sempre gostei muito, mas cheguei à conclusão que a filosofia me tocaria de uma maneira mais profunda. Quando resolvi fazer vestibular, nem sabia o que estudar, nem por onde começar. Fiz como experiência mesmo para tentar no semestre seguinte de novo.  Acabei passando e passei bem. Fiquei muito feliz, acho que ter sido estudiosa na escola valeu a pena.
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Cacau foi Dora, uma das Três Irmãs

Você estava grávida quando entrou para a faculdade, né?
Cláudia Abreu - Sim. Estava esperando a Maria, minha primeira filha. No início, ia para a faculdade com barrigão e depois, entre uma mamada e outra, ia para a aula. Morava do lado da faculdade. Tranquei duas vezes, mas concluí. No nascimento da minha segunda filha nem tranquei. Fiz muitas coisas durante a faculdade - quatro filmes e três novelas -, mas perseverei e terminei o curso direitinho, só que durou sete anos. A loucura mesmo foi fazer a monografia junto com a novela Três Irmãs . Quase que enlouqueci. Minha monografia era “Conceito de trágico como afirmação da existência em Nietzsche”. Nos intervalos das gravações eu ficava lendo direto ou escrevendo no computador. Foi complicado administrar coisas tão díspares e ainda ter que cuidar de duas filhas.
Você faz questão de estar presente na rotina das meninas?
Cláudia Abreu - Depois que a gente é mãe nunca mais fica de férias. Uma tem oito anos. Tenho que estudar junto. Gosto muito de ser mãe. Ser mãe foi uma descoberta fundamental na minha vida. É uma experiência maior. Olha que eu tenho uma profissão privilegiada, a gente pode viver tantas coisas diferentes, vidas diferentes, com uma liberdade tão grande de expressão. Mas o sentimento da maternidade é único. Quando fui filmar "Caminho das Nuvens" (2003), fiquei três meses no Cariri - no Ceará - e a Maria, que estava com um ano e meio, foi junto.
Então você participa da vida delas e elas da sua...
Cláudia Abreu - Pois é. Montei um verdadeiro acampamento no quarto de hotel lá no Ceará. Comprei fogareiro elétrico para fazer sopinha de ervilha para ela e tudo. Ela adorou, corria atrás das galinhas, foi muito legal. Eu continuei trabalhando, mas fiquei muito mais cautelosa na hora de aceitar convites para que eu pudesse participar da vida delas. A vida é outra. Meu foco é ser uma mãe presente, minha família é minha prioridade. Fiquei tão feliz em participar de uma propaganda de incentivo ao estudo [campanha "Eu, você, todos pela educação"]. Eu escrevi o meu texto, que fala que presença da mãe dá uma confiança pessoal para a criança aprender. E isso foi muito verdadeiro. É uma coisa que fala muito sobre mim.
Surgiu aí uma vontade de escrever?
Cláudia Abreu - Na verdade, saí da faculdade com uma vontade de escrever, sim. Já tinha até uma história com bastante coisa escrita, mas meu computador caiu no chão e eu perdi tudo, tudo mesmo. Todos os meus escritos da faculdade, a minha história, minhas fotos... Estou tentando recuperar num lugar especializado. Enfim, tenho pensado muito nessa autonomia de poder escrever uma coisa minha e a propaganda já foi um passo.
Tem algum autor com quem tenha vontade de trabalhar ou reencontrar?
Cláudia Abreu -Gostaria de voltar a trabalhar com a Gloria Perez. Tenho um afeto pessoal por ela, me reporta para tudo que vivemos na época de Barriga de Aluguel . Tenho a minha turma, que são aqueles atores que fazem as novelas do Gilberto Braga, e eu vou amar trabalhar com eles de novo sempre. Mas acho bacana variar.
 Em Belíssima com 'Glorinha' Pires, com quem quer voltar a atuar e reencontrar uma amiga


Acho que o melhor da profissão é a rotatividade, conhecer gente. Eu gosto de trabalhar com gente que eu nunca trabalhei e também reencontrar amigos. Adoraria voltar a trabalhar com o Tony Ramos e com a Glorinha Pires [companheiros da atriz em Belíssima ]. Gostaria de fazer uma parceria com o Luiz Fernando Carvalho também, nunca trabalhamos juntos.
Quando você trabalha com autores amigos, costuma dar palpites?
Cláudia Abreu - Por mais que eu seja muito amiga, nunca dou palpite. Tenho muito pudor em relação a isso, detesto ser intrometida. Mesmo com o Gilberto, que eu conheço mais, eu não palpito, a não ser que parta dele. Não gosto de interferir.
Você costuma se assistir na televisão?
Cláudia Abreu -Não gosto de me ver, mas acho importante para me corrigir. Geralmente, eu gravo minhas cenas. EmTrês Irmãs  foi difícil porque comprei um gravador de DVD, já que não tinha mais videocassete em casa, só que ele quebrou no meio da novela. E, como tenho cada vez menos tempo para mim (risos), não conseguia parar para assistir no horário.

Fonte:http://redeglobo.globo.com/novidades/entrevistas/noticia/2010/01/entrevista-atriz-ja-consagrada-claudia-abreu-diz-que-seu-maior-papel-e-ser-mae.html



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